Intervenções médicas e prática esportiva contribuem para desenvolvimento de aluno com Transtorno do Espectro do Autismo em Natal/RN
Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) é um transtorno neurológico encontrado em muitas crianças que, em nível leve, afeta principalmente a comunicação verbal, não verbal, interação social e coordenação motora. Vários estímulos diferentes podem ajudar a conquistar avanços clínicos e sociais satisfatórios, principalmente se trabalhados com atenção, amor, carinho e paciência. No Núcleo Natal/RN é possível encontrar um exemplo de força e apoio familiar para a superação das adversidades. Inicialmente muito fechado e insociável o aluno Hector de Araújo começou nas aulas de Minivôlei do projeto Vôlei em Rede com oito anos de idade, mesma época em que também passou a frequentar o Centro de Educação e Pesquisa em Saúde Anita Garibaldi, do Instituto Santos Dumont (ISD), em Macaíba/RN, e hoje, com 11 anos, é uma pessoa muito diferente.
[caption id="attachment_10218" align="alignleft" width="300"] Hector de Araújo, diagnosticado com TEA Leve, participa do projeto Equoterapia Potiguar, modalidade terapêutica com cavalos – Foto Luiz Paulo Juttel[/caption]
Após confirmação diagnóstica de TEA Leve, Hector iniciou no projeto Equoterapia Potiguar, modalidade terapêutica com cavalos, uma parceria entre o ISD e a Universidade Federal do Rio Grande do Norte. A neuropsicóloga no ISD, Samantha Maranhão, é uma das pessoas que acompanham o garoto há três anos e sabe o quanto ele já evoluiu e ainda pode alcançar. “Hector chegou para intervenção com um isolamento social muito intenso e com muita dificuldade de construir frases para manter conversações, especialmente entre colegas da mesma idade. Também possuía descoordenação motora muito intensa. Após um ano de intervenção, tais dificuldades diminuíram. Atualmente, ele é uma criança muito mais comunicativa e interativa, além de mais organizada em termos de coordenação motora”, apontou Samantha.
[caption id="attachment_10214" align="alignright" width="167"] Duas vezes por semana, Hector frequenta as aulas de Minivôlei do projeto Vôlei em Rede, uma de suas atividades preferidas – Foto Arquivo pessoal[/caption]
Para a neuropsicóloga, a prática esportiva – também iniciada há três anos – contribuiu significativamente para o desenvolvimento de Hector. “A construção de regras impulsiona comportamentos de empatia e comunicação social eficaz, na medida em que estimula a resolução de problemas com respeito ao momento de fala e em relação ao ponto de vista do outro. Por sua vez, lidar com o ganhar e perder exercita a compreensão e regulação de emoções, especialmente diante de frustrações implicadas na perda. Tais exercícios no jogo podem se generalizar ao cotidiano da criança, notadamente quando ela compreende que também há regras implícitas de comunicação e interação social baseadas no exercício diário de empatia, assim como quando ela melhor regula suas emoções em situações sociais que envolvem frustrações”, afirmou Samantha.
O primeiro professor das aulas de Minivôlei de Hector, Eugenio de Lima, confirmou que o aluno era disperso e incomunicável. Segundo Eugenio, a interação com o aluno e a relação de confiança iniciou por meio de algumas atividades extras como dobraduras com papel. Já a aproximação do garoto com a turma, apesar de gradual e necessitar de mais atenção, ocorreu naturalmente, e a Metodologia Compartilhar de Iniciação ao Voleibol foi fundamental para isso. Por meio dela, o Instituto Compartilhar ensina voleibol independentemente do biotipo e das habilidades técnicas, respeitando as fases motoras e psicossociais de cada faixa etária, e valores de cidadania que auxiliam as crianças e adolescentes a desenvolver competências socioemocionais como controlar suas emoções, gerenciar seus objetivos de vida e estabelecer relações amigáveis. Além disso, a entidade preza por proporcionar uma experiência positiva de prática esportiva, em um ambiente acolhedor e com professores atenciosos. Os principais objetivos são formar pessoas melhores, mais ativas, saudáveis, tolerantes, participativas na sociedade, aptas a tomar decisões conscientes e responsáveis e que aprendam bem a modalidade.
[caption id="attachment_10216" align="alignleft" width="300"] Aluno com TEA (quarta pessoa da esq. p/ dir.) ao lado de seu atual professor, Eduardo Augusto de Sousa, recebe junto com seus colegas o ex-voleibolista da Seleção Brasileira, o Kid – foto Divulgação IC[/caption]
Micarlos Araújo e Veluzia da Silva são os orgulhosos pais do pequeno Hector. Ambos acompanham o filho em todas as atividades das quais ele participa, inclusive nas aulas de Minivôlei. “Não foi fácil para nós, tentamos várias coisas para que ele pudesse experimentar mais a vida. O Hector não gostava de sair de casa, nem de conversar”, comentou Micarlos. Agora, de acordo com o pai, ele interage com as outras crianças e gosta de sair para, por exemplo, “ensinar a seus familiares” tudo o que aprende com seus professores do projeto Vôlei em Rede. A mãe, Veluzia, vê ótimas perspectivas para seu filho: “Eu o vejo conseguindo entrar em uma faculdade com muito empenho da família e incentivo em tudo o que ele se interessar. Ele vai aprender a lidar com as coisas da vida, já que o esporte é assim nos momentos difíceis da perda e nos felizes com as conquistas”.
O trabalho inicial para a interação social passa pela segurança da criança. Em um primeiro momento, a referência de “porto seguro” é a dos pais, porém a presença dos mesmos em outros ambientes é inviável. É aí que entra a presença acolhedora de um(a) bom(a) professor(a). Sempre presentes e atentos às reações de Hector, os professores do Núcleo Natal/RN desempenharam papéis importantíssimos para a permanência e os bons resultados do aluno nas aulas. “Em qualquer ambiente onde a criança esteja inserida, a construção de um vínculo seguro é sempre muito importante. Ter um profissional que exerce o cuidado de proteção, mas, ao mesmo tempo, impulsiona o lidar com desafios, com certeza, proporciona avanços clínicos e sociais sem presença de medos ou quaisquer outros sentimentos negativos na criança”, explicou Samantha.
[caption id="attachment_10215" align="alignright" width="169"] Hector gosta muito de desenhar e fazer dobraduras com papel, seus desenhos surpreendem a todos e são ótimos passatempos – foto Arquivo pessoal[/caption]
É graças ao esporte e ao tratamento especializado com profissionais competentes, tanto nas aulas quanto na área da saúde, que crianças e adolescentes como Hector têm a oportunidade de interagir mais com a sociedade e quebrar barreiras que, à princípio, pareceriam quase impossíveis de transpor. “Ele (Hector) permanece no vôlei até hoje, pois ele passou a se interessar por este esporte. Sempre observamos o que ele gosta de fazer. Ele melhorou muito na socialização, se expressa bem com as crianças da idade dele e com nós adultos, olha nos olhos das pessoas, reconhece as expressões faciais. Ele só queria ficar em casa e longe de lugares com muitas pessoas, já hoje até nos cobra sobre quando chegam os dias de praticar o vôlei”, completam Veluzia e Micarlos. Atualmente as atividades desenvolvidas pelo garoto são: terapia ocupacional; fonoaudiologia; psicoterapia e equoterapia, iniciadas quase simultaneamente com as aulas de Minivôlei.
Parceiros do Núcleo Natal/RN do projeto Vôlei em Rede: Prefeitura Municipal do Natal, Natal Volley Club, Centro de Educação Integrada e Universidade Potiguar.
Parceiros Institucionais: Uptime, Sextante e Delírio Tropical.
Fotos: arquivo pessoal, divulgação IC, divulgação ISD, Luiz Paulo Juttel
O Instituto Compartilhar é signatário do Pacto Global da ONU e ajuda a construir um futuro melhor para as futuras gerações por meio da prática dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável.