Ensinamentos do projeto Vôlei em Rede foram a base para que a estudante Renata Martins pudesse alcançar voos mais altos
[caption id="attachment_11400" align="alignleft" width="225"] De férias no Brasil, Renata visitou o colégio em que estudou parte do ensino médio para contar das suas experiências[/caption]
De passagem pelo Brasil antes da próxima viagem de volta aos Estados Unidos, ela quer ajudar a consertar o país pelo esporte e pela educação.Entrevista concedida em junho de 2019 Renata Martins foi criada de maneira simples em Curitiba, mas seus sonhos não eram nada pequenos. Com 16 anos, saiu sozinha do Brasil e foi pôr em prática os aprendizados do projeto Vôlei em Rede nas terras dos Estados Unidos. Hoje, ela está quase formada em Negócios Internacionais e Marketing pela Universidade do Sul da Flórida e estudou um período em Praga, na República Checa. Por agora, trabalha em Nairóbi, Quênia, como parte integral da sua formação focada no exterior, prestes a retornar aos EUA para completar o curso. Os valores e ensinamentos do projeto a acompanharam durante todo o tempo, não apenas com a base em quadra, mas também autonomia para se inscrever e aplicar sozinha nas universidades americanas, ou a responsabilidade de treinar até mesmo durante o período de férias. Hoje em dia, é a primeira da família com diploma universitário. A história começa com grande apoio dos pais. Desde os 4 anos de idade, Renata já fazia parte do mundo do esporte. Era ginasta, e os pais a motivavam sempre a continuar estudando. Nunca colocavam os sonhos da filha de lado, mas sempre a lembravam da importância de se esforçar para buscar o que queria. Com oito anos, sua mãe descobriu o projeto Vôlei em Rede e logo inscreveu a filha. “No primeiro dia eu estava tímida, apreensiva, e já no fim do horário de aula saí com um sorriso no rosto. Os professores fizeram a experiência ser muito divertida. Segunda e quarta feira viraram meus dias favoritos na semana, porque eram os dias do projeto”, contou. [caption id="attachment_11403" align="alignright" width="300"] Uma de suas conquistas foi a aprovação no Colégio da Polícia Militar do Paraná, onde estudou o ensino médio[/caption] Renata então começou na categoria Mini 2x2 e evoluiu até a Mini 4x4 com 14 anos. No projeto, ela aprendeu os fundamentos do vôlei – manchetes, saques, recepções, bloqueios etc; e ao mesmo tempo aprendeu também valores que a guiaram por toda a experiência dentro e fora de quadra, como cooperação com parceiros do time; respeito com autoridades, técnicos e pais, responsabilidade e autonomia. A essa altura ela já era aluna do Colégio da Polícia Militar do Paraná e deu um passo largo: saiu do projeto para jogar no time do Positivo. Um dos muitos sonhos conquistados, além de continuar sempre no esporte, ganhando prêmios e se destacando. O professor Alexandro Martins, do Núcleo Central – Curitiba/PR, foi professor da Renata na categoria Mini 3x3 (11 a 12 anos) e conta que já nessa época ela era uma aluna muito dedicada, com uma evolução rápida, e um apreço por ajudar os alunos e colegas. “Nós já percebíamos que, na área que ela escolhesse seguir, ela iria colher bons frutos, pois se entregava ao máximo em tudo que gostava de fazer”. Com o crescimento do interesse e habilidade no jogo, o professor e treinador Felipe Seleme, que possui conexões internacionais, propôs à Renata a primeira semente de uma vivência internacional: a possibilidade de passar uma semana de experiência nos Estados Unidos. O valor, contudo, foi o impedimento – seus pais responderam: “só se a gente ganhar na loteria”. Isso foi gás suficiente para que Renata começasse a buscar esse sonho. “Num primeiro momento eu fiquei novamente receosa de tentar, mas minha mãe falou que seria uma oportunidade de vida que não voltaria nunca mais”. E assim fez. [caption id="attachment_11407" align="alignleft" width="300"] Renata visitou também o Núcleo Central – Curitiba/PR, onde começou a jornada[/caption] Renata começou a ir atrás do que queria: vendeu brigadeiro, procurou bolsa de estudos, pagou o passaporte e foi atrás do visto sozinha. Se esforçou como podia e mais um pouco. Munida de uma bolsa de estudos, inglês intermediário e muita força de vontade, ela não sabia bem o que esperar. E ao invés de uma semana, foi para ficar. Aos 16 anos, sem celular, no meio do ensino médio, Renata Martins pousa nos Estados Unidos. Ela realizou o 2º e 3º anos de ensino médio na Flórida, de 2014 a 2016, em Montverde Academy, e continuou sempre jogando vôlei. A adaptação não foi fácil. Renata conta que, por vezes, pensou em largar tudo e voltar pelas dificuldades em se comunicar, enquanto não falava bem a língua. “A comida também era muito diferente. Eles não comem em horários definidos como a gente, comem quando dá fome, comem um lanche, algo assim. Hoje em dia eu já estou acostumada, mas na época foi complicado... lembro até hoje que o único feijão que eu encontrava lá era um feijão doce, feito com açúcar mascavo”. As pessoas, embora sempre a tivessem tratado muito bem, recebido de forma positiva, ainda havia uma certa frieza, distanciamento. Outro ponto que Renata estranhou em um primeiro momento era o foco em produtividade: momentos de ócio não eram bem vistos. Renata reforça a importância que os pais tiveram nesse contexto. “Eu digo que acertei na loteria quando fui concebida. Meus pais vieram de uma infância simples, sempre se esforçaram muito – meu pai trabalha desde os 12 anos, e minha mãe nasceu no interior e se mudou para Curitiba para trabalhar, só que nunca puderam estudar. Então eles quiseram dar para mim e para minha irmã o que não tiveram, e queriam que a gente estudasse para poder alcançar tudo isso”. Renata sempre foi incentivada a conseguir boas notas, mas não era uma cobrança. Era como um apoio, algo que ela deveria fazer por ela mesma. [caption id="attachment_11409" align="alignright" width="300"] Em uma roda de conversa com a galera, ela contou um pouco mais sobre como os valores a acompanharam por toda a experiência internacional[/caption] Após terminar o ensino médio, conseguiu uma bolsa atlética pelo esporte e terminou um curso de dois anos, o associate degree (análogo a um curso técnico, um curso de base no Brasil) no Lake-Sumter State College em Leesburg, Florida. Foi aí que Renata percebeu que, embora gostasse muito do esporte e fosse muito grata por onde conseguiu chegar pelo Vôlei, não queria seguir carreira. Ela conheceu um outro amor: os estudos acadêmicos. Para ela, é essa a forma que mudará o Brasil e até o mundo. “A gente fala muito de como consertar o Brasil, e para mim isso é pela base, é pelo estudo. E esse é o meu sonho: poder representar o meu país lá fora”, afirmou. Após terminar o curso de base, a estudante se encontrou em uma bifurcação no caminho. Aplicou para diversas universidades, tentou diversas bolsas, trabalhava da forma que podia para se manter lá fora. Uma das aplicações de bolsa deu certo e, no ano que vem, Renata se formará na Universidade do Sul da Flórida, em Tampa, Flórida – e para conseguir encerrar o curso (que tem enfoque no internacional), precisou estudar fora. Em Praga, estudou sobre cadeias de produção. Já em Nairóbi, estuda e trabalha junto com escolas das Deep Sea Slums (Favelas do Mar Profundo, em tradução livre), comunidades em situação de vulnerabilidade social no Quênia. Ela afirma que essa é uma forma de retribuir, de levar para as comunidades que necessitam uma mensagem positiva, uma palavra de mudança. [caption id="attachment_11411" align="alignleft" width="300"] Agora em viagem para concluir o curso, Renata estudou em Praga e trabalha em Nairóbi como parte integral da finalização dos estudos[/caption] Em junho de 2019, de férias no Brasil, a ex-aluna trouxe uma missão parecida: ser uma figura de impacto positivo para as crianças. “Eu quero ser para eles uma imagem, uma palavra que eu gostaria de ter ouvido naquela mesma idade. Quero passar para eles a mesma importância nos estudos que meus pais deram, contar que podem ser o que quiserem e podem ir muito longe se houver esforço”. O primeiro lugar que visitou foi bastante simbólico: o mesmo colégio em que estudou e se esforçou para entrar, o Colégio da Polícia Militar do Paraná. Próxima da sua formatura, Renata recebeu uma surpresa ao voltar para os EUA. “Foi o dia mais feliz da minha vida”, contou. Todo ano, a escola organiza uma reunião entre doadores e alunos que recebem bolsas, muitas das quais ela pôde usar e a ajudaram em sua jornada. Nesse evento, ela foi chamada para fazer um discurso e, depois de descer do palco e voltar para a mesa, foi surpreendida ao ser chamada novamente. Seus pais e irmã saíram do Brasil e foram até à Flórida com voo e hospedagem pagos pela universidade, por uma semana, para prestigiá-la. [caption id="attachment_11415" align="alignright" width="300"] A ferramenta que Renata vai usar para mudar o mundo são os estudos e o esporte, para chegar em lugares cada vez mais altos[/caption] Hoje em dia, o Vôlei virou instrumento, não mais carreira. Porém, Renata Martins é muito grata por onde pôde chegar – o esporte a permitiu expandir seus horizontes e atingir lugares que nem imaginava que poderia. A pequena menina do Núcleo Central – Curitiba/PR se tornou uma mulher que viaja para Istambul, Praga, Flórida e Nairóbi, a primeira da família com um diploma acadêmico. Nada disso seria possível se não tivesse o apoio da família, dedicação para fazer dar certo e aproveitar as bases e valores ensinados pela Metodologia Compartilhar de Iniciação ao Voleibol. As redes sociais de Renata são o Instagram, o Linkedin e o Facebook. Ela se dispõe a ouvir e ajudar a quem tiver dúvidas sobre como se internacionalizar, por onde começar etc. Fotos: Divulgação IC, acervo pessoal de Renata Parceiros Institucionais: Uptime, Sextante e Delírio Tropical.